Darwinismo Literário e Computação – Luís Moniz Pereira, UNL

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Hannah BLUE

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Nov 12, 2007, 11:26:19 PM11/12/07
to Midiateca da HannaH
Palestra

Darwinismo Literário e Computação – Luís Moniz Pereira, UNL

(transcrição da gravação)


Sumário

􀂆 O autor
􀂆 A psicologia evolucionária – O genoma e o cognoma
􀂆 A narrativa oral e escrita
􀂆 A literatura e crítica literária
􀂆 A consiliência
􀂆 A computação como media
􀂆 Bibliografia


Vou abordar cada um destes pontos: O genoma e o cognoma, e a
psicologia
evolucionária, para finalmente poder introduzir a narrativa como algo
que é produzido pelo ser
humano, que se desenvolveu no palco evolucionário. Passo a uma análise
da literatura e critica
literária actual, vistas à luz desse novo paradigma.

De seguida falarei sobre consiliência, ou seja, a fusão das duas
culturas numa só – a
problemática do saber humano ser ou não unificável. Finalmente falarei
da computação como
um média novo, e sobre algumas das publicações em que me baseei para
formar a minha
opinião sobre o assunto.

O autor

Não sou propriamente investigador de Inteligência Artificial mas em
Inteligência
Artificial.

Tenho publicado textos sobre computação darwiniana cognitiva, modelos
da
computação inspirados na evolução, na noção de mutação e selecção
natural, e sobre o uso
cognitivo desse paradigma da emergência, que é um paradigma muito
usado na informática.

Há quatro anos que ensino Computação e Ciências Cognitivas, uma
cadeira da área de
Ciências Sociais e Humanas, e ensino também Agentes Computacionais.
Leio bastante, mais
literatura estrangeira anglo-saxónica do que qualquer outra coisa.
Também tenho feito alguma
literatura darwiniana, nomeadamente elaborei o libreto para uma ópera
darwiniana que ainda
não foi musicado.

É este o contexto em que me movo. E o que eu disser tem este contexto
por detrás. Irei
apresentar de maneira breve os tópicos que referi, e tentarei
introduzir uma série de noções
complexas e importantes, atuais, que são resultado de uma investigação
mundial profícua durante os últimos quarenta anos, nomeadamente sobre
a psicologia evolutiva.

A psicologia evolucionária – genomas e cognomas

Esta disciplina começou no princípio dos anos 60, com a sociobiologia
e o estudo das sociedades de insetos. Procurava saber-se porque é que
os insectos são gregários. Esse estudo foi feito de uma forma muito
matemática, com simulações em computador, e depois continuou com as
contribuições da psicologia, da antropologia, da arqueologia, da
filosofia e da linguística. Penso que é legítimo dizer que hoje em dia
nos permite dar uma visão de conjunto integrada.

O primeiro manual de Psicologia Evolucionária saiu o ano passado –
está na bibliografia – e mostra que já existe uma base sólida e que se
consolidou. Há já muita produção que é considerada consistente no que
respeita à Psicologia Cognitiva – que veremos um pouco mais em
detalhe.


A noção principal, pela qual temos de começar, é que há dois
mecanismos darwinianos em co-evolução.

Por darwiniano entendo o grande paradigma da emergência que resulta
das mutações, selecção e reprodução, que trouxe a vida na Terra até
hoje, e em particular deu origem aos seres humanos como espécie. Nem
toda a gente saberá que estes mecanismos de propagação têm dois níveis
reprodutores: os genes – aqueles que fazem parte do nosso sistema de
reprodução sexuada, e repousam codificados no ADN – e os memes, que
são o equivalente dos genes para o cérebro.

Como já todos poderão ter reparado, em especial os que trabalham no
ensino, a educação é um mecanismo reprodutor de ideias. Presumimos que
as melhores ou mais aptas ideias sobreviveram, e por isso são
melhores... E, como em toda a educação e cultura
humanas, nós propagamos memes religiosos, biológicos, filosóficos,
etc. Os bons memes vão em cachos (como os genes vão nos cromossomas) e
reproduzem-se no cérebro. Pode até dizer-se que o cérebro é apenas um
veículo para os memes, assim como se pode dizer que somos somente um
veículo para a reprodução dos genes egoístas – somos embalagens
perdidas. E podemos adotar a mesma visão em relação aos memes.

O problema da seleção também é particularmente importante no que toca
a considerar as componentes individual e grupal. É conhecido que, se
uma pessoa morrer para salvar três dos seus irmãos, geneticamente tal
é mais vantajoso do que se não o fizer porque
os irmãos partilham 50% dos genes com aquele que se sacrifica o que,
em termos de sobrevivência, é melhor do que se morressem todos os
irmãos sem haver o sacrifício do primeiro. É esse mecanismo – de uns
morrerem para salvar os outros, relacionado com o
gregarismo e as sociedades de insectos – que é matematicamente
explicado para demonstrar de que forma leva à sobrevivência do grupo.
Ao invés de uma simples sobrevivência individual – ou de uma família –
encontra-se a sobrevivência de um grupo mais alargado o que, numa
espécie gregária como a nossa, é de extrema importância.

Nas espécies gregárias há diversos tipos de genomas e cognomas em co-
presença.Inclusivamente, há cognomas cujos genomas não se reproduzem –
os dos padres e de certos investigadores que estão demasiado metidos
no seu laboratório. No entanto, a sociedade
continua a produzir padres e investigadores. A razão de ser é a sua
contribuição para a sobrevivência dos outros (espera-se!) – alguns há
que continuam até a contribuir para a sobrevivência dos outros após a
morte…

Neste contexto, deveremos olhar para o cérebro como algo que se
desenvolveu ao longo de milhões de anos. No Homo Sapiens Sapiens
podemos atribuir-lhe cem ou duzentos mil anos, no máximo, com o
Paleolítico a começar a 60 ou 30 mil anos atrás, período em que
se desenvolve a linguagem e posteriormente a escrita.

Há uma linguagem oral – e quando falo de literatura estou a pensar
necessariamente também na oral -- que passou por um período de
evolução maior já que, comparativamente, a literatura – enquanto
linguagem escrita – é bastante mais recente. A questão é saber qual é
o
cérebro que produz narrativas, que funcionalidades tem e a que teve de
se adaptar. Temos que perceber isto para entender o que o cérebro faz.

Muitos contentam-se em falar do passado ontológico do cérebro, e dão
primazia à vivência do cérebro na criança – que serão os freudianos e
os psicanalistas – o que, comparando com a infância da espécie, não é
nada. A visão nova, que requereu o concerto de muitas disciplinas
científicas, dá hoje em dia pelo nome de Psicologia Evolucionária, e
pode ser considerada uma das grandes conquistas da Ciência dos últimos
quarenta anos.

A questão que se põe a seguir é o que eu chamo de Turing e Eva – o
problema da tábua rasa versus a existência de módulos específicos e
gerais.

Turing foi o grande informático que concebeu os computadores na sua
generalidade. E o computador é uma tábua rasa: eu programo-o com o que
quiser, que é a sua grande importância enquanto instrumento maleável.
A nossa cultura, as nossas ideologias políticas, a própria literatura,
encaram o humano como uma tábua rasa, infinitamente moldável, e não
considera relevante o que sucedeu à espécie. O importante é que o
homem se possa moldar à ideologia, à religião, ao «marketing»
político, etc. Há, portanto, à partida, um faceta interesseira nessa
maleabilidade do cérebro.

Eva representa o genoma herdado, nomeadamente os mitocôndrios de pura
linhagem feminina, sem cruzamento, e que traduzem os módulos
específicos da evolução da espécie.

Mas o cérebro não é como é apenas em virtude da tal evolução. É uma
combinação de duas coisas, porque os memes veem produzir o tal segundo
mecanismo de evolução – mais flexível e adaptável de acordo com as
circunstâncias, já que a mutação genética é mais
duradoura no tempo e que, sem essa capacidade de adaptação rápida,
colocávamos em causa a nossa sobrevivência. Essa mutação rápida chegou
ao ponto de prever as mutações necessárias para o futuro. É por isso
que nós imaginamos o futuro – criamos cenários
hipotéticos, prevemos quais são os futuros possíveis e escolhemos
alguns.

Esta é a base do campo de ação do livre arbítrio – a capacidade de
imaginar cenários e de os escolher. Veremos de que modo a literatura
está relacionada com isso enquanto mecanismo produtor de cenários –
esta é uma primeira ligação óbvia.

Estamos a falar da existência duma natureza humana, estudada e
confirmada por informação interdisciplinar. E também hoje em dia
sabemos que oposição Natureza/Cultura já não é assim tão grande, dado
que os nossos genes respondem ao estado do ambiente. A noção de que a
pessoa “usa” os genes para nascer, e depois é tudo cultura, é falsa –
basta ler o livro de Matt Ridley, Nature versus Nurture.


Na Psicologia Evolucionária – vou tentar fazer uma síntese – o ser
humano é visto como um produto da evolução. A evolução tem um critério
de sucesso, que é o do êxito reprodutivo, e que tem a ver com a
seleção em grupo de parentes, no sentido de familiares – trata-se de
uma seleção inclusiva.

O sucesso reprodutivo depende imensamente do investimento parental e
das estratégias de emparelhamento da escolha dum parceiro sexual –
onde está incluída a própria selecção sexual dado que estes parceiros
se escolhem uns aos outros. Por exemplo, as pavoas escolhem os pavões
com grandes penas, e há até teorias que dizem que a literatura não
será mais do que um fenómeno tipo «pavão».

Para além do sucesso reprodutivo há também o sucesso na interacção
social. Se somos seres gregários temos que alcançar uma espécie de
estatuto para os outros nos ouvirem e obedecerem aos nossos comandos;
temos de nos preocupar com a expansão territorial e a sua defesa, já
que queremos ter descendentes. Temos de fazer acordos contratuais com
as pessoas que vivem connosco nesta ecologia social.

Há também a expressão pessoal – se nós não nos exprimirmos ninguém vai
copiar os nossos memes. E há ainda a função de entretenimento – onde
iremos encontrar a relação com a literatura. São funções essenciais, o
entretenimento também tem uma utilidade, sobretudo na
juventude, uma utilidade pedagógica – na simulação de jogos e teatros
sociais, no fingir de personagens, etc. Esse entretenimento prossegue
pela idade adulta. Também se podia dizer que o entretenimento preenche
um certo vácuo cognitivo. O cérebro evoluiu de tal maneira que, a dada
altura, se está parado não se sente muito bem – o entretenimento
preenche esse vácuo.

São resultados a que chegou a Psicologia Evolucionária. Há disposições
inatas referentes à cognição, personalidade e identidade sexual, às
atitudes para com a família, para com o social e a própria natureza.
Os antropólogos detectaram emoções comuns, universais e de todos os
tempos, com as correspondentes expressões faciais que são reconhecidas
em todas as culturas: alegria, tristeza, medo, raiva, repugnância,
desprezo e tristeza. São emoções universais e com uma exteriorização
comum. Nós temos de facto uma natureza humana comum.

Há uma grande discussão - que foi aliás reproduzida na Inteligência
Artificial – sobre o facto de a inteligência ser geral, ou ser
constituída por módulos específicos. Quando surge em Psicologia
Evolucionária desencadeou uma moda que foi iniciada por Chomsky
(embora na
Linguística não seja moda) em que se procuraram detectar as áreas
específicas de linguagem no cérebro, e ficou mais do que provado que
existem módulos específicos para certas funções cerebrais.

A dado momento, surge uma nova perspectiva que se opõe àquela
Inteligência Artificial dos matemáticos em que tudo são demonstradores
de teoremas – desde que se lhe dê os axiomas apropriados em qualquer
domínio, o computador prova-os, e o conhecimento são as
conclusões derivadas de demonstrações. Este tipo de Inteligência
Artificial tem a ver com a universalidade do computador como tábua
rasa. Em contraposição a esta perspectiva, em finais dos anos 80,
surge a noção do computador situado numa realidade e apenas com
módulos específicos. Cerca de uns dez anos depois toda a gente se
pergunta, «e os módulos específicos, como é que falam entre si?».
Então, como hoje, reintroduziu-se a noção de uma inteligência geral
que permite a concertação dos módulos.

A esta mesma conclusão chegaram arqueólogos e antropólogos. Um livro
muito bom sobre isso (ver bibliografia) é The Prehistory of the Mind,
de Steven Mithen, em que ele demonstra que, na evolução humana,
existiu uma primeira fase de inteligência geral, a que se seguiu outra
de especializações e desenvolvimento de inteligências específicas,
vindo a culminar com a inteligência geral do Homo Sapiens Sapiens –
com demonstrações práticas no terreno em virtude dos artefactos e das
provas arqueológicas.

É essa inteligência geral que nos permite utilizar as funcionalidades
que já mencionei, entre as quais se encontra tanto o próprio
conhecimento científico quanto a criação de artefatos estéticos e
imaginativos. Para além das funções de sobrevivência há funções
adaptativas que o cérebro providencia, e que não têm a ver com a
reprodução directa mas com o criar as condições para depois se poder
dar a reprodução direta.

As funções adaptativas reificadas em sistemas comportamentais têm um
valor reprodutivo indireto, e correspondem à existência de regras:
«nestas circunstâncias faço isto ou aquilo». Relaciona-se com as
estratégias de jogos sociais, com a convivência em grupo, e
são garantia da «fitness» – da aptidão para a sobrevivência do grupo
como um todo. Também se inclui nelas a competência de introspecção e
simulação do futuro como capacidade de pré adaptação, que é típica do
ser humano - embora os castores, por exemplo, construam os seus
diques o que, pró activamente, é também um futuro à sua medida,
através do que, nas palavras de Richard Dawkins, se chama o extended
phenotype.


A narrativa oral e escrita.

Com este pano de fundo, cabe perguntar porque é que os seres humanos
falam,
escrevem, fazem livros, criam narrativas, contam histórias.

Nessa tradição vemos que os motes e as propensões evolutivas estão lá
na base da
produção destes textos. Por exemplo, têm componentes que são clássicas
na literatura.

Grande parte da literatura acaba por estar preocupada com os tópicos
de interesse para os
humanos – os escritores e os produtores não tendem só a produzir
aquilo por que o seu
cérebro se interessa, mas preocupam-se também por produzir aquilo que
os outros querem ler,
e têm interesse em conhecer como cenários possíveis, treinando a sua
vida mental e como
uma espécie de iniciação social. Uma forma também de preencher o dito
vácuo cognitivo,
embora isso seja uma expressão demasiado forte. É sempre útil fazermos
esse exercício de
pré preparação para o futuro se não temos mais nada que fazer.

A literatura tem um papel evolutivo. Segundo outros tipos de análise
anteriores a esta
perspectiva da psicologia evolucionária, a literatura seria uma mera
exibição sexual tipo pavão.

Estamos a considerar que não, que não seria um subproduto irrelevante,
um epifenómeno,
algo de dispensável na linguagem da evolução. E estamos a eliminar
este traço da
interpretação, bem como o vácuo cognitivo. A literatura tem, ao invés,
uma função adaptativa:
as histórias, os mitos, os textos sagrados e os discursos vão criar um
«esprit-de-corps» – estou
a pensar nos discursos do Fidel Castro, por exemplo -- e confirmações
para dar seguranças.

A Bíblia tem os seus textos sagrados, são securizantes, constroem as
nossas
confirmações cognitivas e de pertença a um grupo. Tem sempre o outro
lado da moeda, já que
a sobrevivência de um grupo se dá sempre contra outro grupo - e daí
surgem todas as guerras
religiosas, as fracturas ideológicas etc. Estes memes fazem parte do
seu próprio cognoma e
fecham-no em relação aos outros, competidores – esta é a fase moral
que a espécie humana
está em vias de quiçá passar à frente.

É esse papel evolutivo que permite construir e simular cenários.
Permite o treino da
expressão emocional, a compilação de comportamentos, que façamos a
nossa reprodução
memética, que possamos estudar a co-presença de diversas estratégias
em jogo, de diversos
actores - construir a consciência colectiva e fazer a tal escolha de
futuros possíveis.


A literatura e crítica literária

A crítica literária sempre partiu dum certo conceito da natureza
humana. A literatura e a respectiva crítica foram até hoje substitutas
da psicologia evolucionária. Grandes escritores como Henry James são
um bom exemplo disso. Têm um conceito de ecologia cultural, as suas
personagens movem-se num certo mundo cultural, e as suas obras
fomentam a explicação das diferenças, já que não são todas iguais
entre si.

Dado o novo contexto da psicologia evolucionária, a literatura poderá
providenciar testes para a dita psicologia, que tem teorias a aplicar.
Teremos de ver se, por exemplo, nos romances de Henry James a
psicologia evolucionária passa o teste do conhecimento literário.

Por outro lado, deve, ou pode, passar a empregar -- não exclusivamente
-- a psicologia evolucionária para fazer a análise da crítica
literária, com base nas ciências dos tais universais.

A atual crítica literária está em crise em resultado do pós-
modernismo: com o seu textualismo tudo é linguagem; na desconstrução
tudo é subtexto, e o autor não sabe o que está a dizer porque tudo é
inconsciente.

Não há uma verdade, não há um indivíduo nem uma ordem natural e,
portanto, todo o significado aparente é contraditório, arbitrário e
convencional, até na ciência. Daí as grandes discussões do Foucault,
do Levy-Strauss. Por outro lado é um golo na própria baliza, porque
afirma que é também ela construção, que nos deixa sem saber quem ela é
porque é auto-desconfirmatória.

Há hipóteses de passar a uma nova fase de critica literária, com
outras bases mais sólidas, com ligações às ciências e contribuindo
para a tal consiliência de todo o conhecimento humano.

A consiliência

Os argumentos a favor da consiliência são principalmente avançados por
Edmund Wilson, criador da sociobiologia, e que tem um livro chamado
Consiliência, de uns 8 anos atrás. Defende que só há uma natureza
física. A natureza não se convence com boas palavras,
por muito que os desconstrucionistas o possam pensar, a ciência não é
mera convenção.

A consiliência é o resultado da co-evolução dos genes e os memes. Os
nossos memes culturais têm uma base genética e não podem ir contra os
genes que são quem lhes garante a sobrevivência, embora essa luta
exista – chegámos ao ponto que os memes alteram os genes,
fazendo operações genéticas e os modificam (se para bem ou para mal,
ainda estamos para saber).

Por outro lado, há várias culturas, mas estas são produzidas pelo
mesmo cérebro e portanto não podem ser tão diferentes quanto isso, nem
tão distantes. A consiliência põe em causa o romantismo da tábua rasa,
e descrê da «irreducibilidade» artística. Nesta última
concepção há algo de especial que não é redutível a mais nada, e a
ciência «não é chamada» em termos de arte, mesmo que esta seja um
produto de um cérebro que evoluiu ao longo de milhões de anos. A
consiliência crê em universais humanos cientificamente estudáveis, e
abre
as portas para essa intercomunicação.


A computação como média

O que tem isto a ver com os média? É aqui que pretendo apresentar a
computação
como média. A ligação é que nós começamos a experimentar novas
estruturas literárias em resultado das redes, da interação, da
ubiquidade e da mobilidade.

Muitos de nós já vimos filmes que são só personagens artificialmente
criados, sintetizados graficamente e o passo seguinte – e eu tenho um
projeto sobre isso – é o como escrever regras para descrever os
comportamentos desses agentes artificiais.

Atualmente, os agentes artificiais ainda estão na fase do desenho
animado. Fazia-se uma «frame» após outra, e depois juntava-se tudo
para dar a ilusão de que há uma estrutura profunda detrás daquilo.
Porém essa estrutura está apenas na cabeça de quem teve de o fazer. A
ideia é poder dizer «esta personagem tem este comportamento, a outra
aquele, o cão faz assim ou assado, etc.» e, através destas regras,
gerar uma sequência de frames e fazer a compilação a nível gráfico.

Vamos descrever as coisas a um nível mais alto e profundo, e é aí que
entra o escritor com todo o seu conhecimento, e a inteligência
artificial que permite transpor para o computador as regras, que
quando executadas levam a esse comportamento. Ainda é uma questão
muito
experimental. Será necessária a experimentação, e entrará então a
crítica literária, para analisar a validação dessa experimentação, ao
que se adiciona a necessidade de provar propriedades literárias. Se a
história emerge através de regras que nós damos, queremos garantir que
ela se conclua por certas etapas e que tenha um fim.

Temos de introduzir condições de integridade e garantir que a história
e os atores tenham certas propriedades que façam com que aconteça o
que queremos, embora os pormenores possam ser irrelevantes. Isso são
técnicas conhecidas e caras aos informáticos, que têm de garantir que
os protocolos entre computadores funcionam e que conseguem entender-se
– por exemplo, fazendo o TCP/IP e provando a correcção dos mesmos.

As aplicações serão naturalmente tornadas súbditas de Hollywood, mas
também será possível usá-las para fazer histórias para a conservação
da herança cultural, reproduzir o que fizeram certas personagens
históricas num dado local histórico.

Também pode vir a servir para a educação psicológica e moral
sintetizar casos de histórias em que os atores desenvolvem um
comportamento de acordo com as regras especificadas. Poderemos depois
levar o utilizador a ver experimentalmente as hipóteses – «se
fosse assim, ou de outra forma» …


E mais não digo, que o tempo se esgotou.

Bibliografia

David Buss (ed.), The handbook of evolutionary psychology, J. Wiley,
2005.
Joseph Carrol, Literary Darwinism, Routledge, 2005.
Jonathan Göttschall, David Sloan Wilson (eds.), The literary animal.
Northwestern Univ. Press, 2005.
Steven Mithen, The prehistory of the mind, Thames and Hudson, 1996.

http://centria.di.fct.unl.pt/~lmp/publications/slides/velhos_e_novos_media/transcricao_novos_velhos_media.pdf

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