A anorexia nervosa e o caminho fácil para a felicidade
Por: Elizabeth Zamerul
Quando entrei na faculdade, os garotos diziam para as garotas da
classe: "Quando você nasceu Deus lhe fez uma pergunta: você quer ser
bonita ou entrar na faculdade de medicina da USP?" Embora soubéssemos
que nos chamar de feias era uma brincadeira, restava ali uma mensagem
subliminar: o caminho do sucesso fácil é para as moças bonitas e o
árduo, pleno de esforço, para as feias".
À nossa volta e para a mulher, muitas situações corroboram a mensagem
de que ser bonita é o caminho mais fácil para o sucesso e a felicidade
na vida. Quantas modelos se tornam apresentadoras de programas ou se
casam com homens ricos, famosos e poderosos como esportistas,
artistas, grandes empresários e políticos! Eu conversava com uma amiga
recentemente, lembrando que há algum tempo isto ocorria para aquela
que se tornava "miss". Agora, estamos na era das top models. Estas
ocupam os sonhos e fantasias dos homens e das adolescentes e jovens
que buscam, às vezes desesperadamente, como é o caso das anoréxicas,
se enquadrar no perfil que as levará para a felicidade rápida e
facilmente.
Há pouco tempo, vimos que uma modelo famosa foi considerada uma das
mulheres mais ricas do mundo. Somando-se a isto o fato de ela ser
jovem, estar sempre em evidência, atrair a atenção e a admiração de
milhares de pessoas e já ter tido namorados famosos e até um galã de
cinema, como não concluir que a vida dela seja um conto de fadas e até
mesmo que ela seja feliz?
A questão que levanto é: quanto se conclui a respeito das vidas de
indivíduos que realmente não conhecemos? Ou seja, as conclusões de que
uma pessoa desconhecida é feliz é precipitada porque o número de
eventos que observamos é ínfimo em relação à vida dela como um todo.
Este é um tipo de pensamento linear que a publicidade usa e abusa, por
exemplo, sugerindo à mulher a compra de produtos que podem fazer o
milagre de atrair o príncipe encantado e a felicidade. Se eles fazem
isto é porque funciona, ou seja, é porque as pessoas crêem nisto e
assim, reforçam este comportamento, o que não seria um problema se não
começássemos a ver jovens anoréxicas sofrendo e vindo a falecer por
causa deste tipo de pensamento de que a sua magreza e beleza a fará
feliz. Apesar desta não ser a única questão envolvida no problema, é
preocupante e merece atenção.
Há modos de evitar a anorexia nervosa e o sofrimento absurdo das
mulheres para alcançar a imagem ideal. Muitas vezes, as jovens estão
tão mergulhadas no problema que não têm qualquer condição de discernir
sobre o que é real ou imaginário, ou o que é saudável ou não. É real
que a beleza facilita a vida e abre portas. Ela funciona como um
recurso especial a mais que se tem, mas que sozinho não significa
muito, pois precisa da sabedoria e da inteligência para ser bem
administrado. É apenas um elemento em meio a uma série de outros que
podem contribuir para compor a felicidade de alguém.
Eu me pergunto como estamos educando as nossas filhas e explicando
sobre como é a vida. Realmente, acreditamos que a vida seja fácil para
as belas e difícil para as feias? E que a fama e o sucesso material ou
até mesmo se casar com um rico, famoso ou poderoso garante a
felicidade? Os pais podem ajudar suas filhas a repensar estas
mensagens recebidas no dia-a-dia, mostrando-lhes um pouco mais da
complexidade e da relatividade da vida; podem neutralizar a força dos
clichês, aprofundando o nível da discussão, ampliando a visão e
tornando-a mais sistêmica. Ou, se observarem suas filhas caminhando
perigosamente pelas questões de imagem física e peso corporal, e não
se sentirem aptos para ajudá-las, podem buscar livros que ampliem sua
visão ou profissionais médicos especializados e psicoterapeutas que o
façam.
Escuto um pedido de socorro no ar e não consigo me fazer de surda. O
sofrimento está grande e o culto à imagem, no nosso tempo, beira o
absurdo, quando sabemos que ela não é capaz de dar tantas respostas
assim. Precisamos nos mexer e cuidar das mentes das nossas jovens. As
mortes delas nos convidam a discutir o problema e achar soluções.
Vamos aceitar o convite?
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