Virtualização: o sistema operacional pode desaparecer?
por Andrew Conry-Murray/InformationWeek EUA
09/11/2007
O jogo da virtualização avança, enquanto a VMware desafia a Microsoft
pelo domínio na área de servidores
Em um discurso realizado na LinuxWorld, em agosto passado, a cientista-
chefe da VMware, Mendel Rosenblum, falou sobre sistemas operacionais
específicos de aplicativos, fornecidos por ISVs (Independent Software
Vendors ou Fabricantes de Software Independentes), que seriam
executados em um hipervisor - sem a necessidade de um sistema
operacional de propósito geral. Pode apostar que a Microsoft anotou
essa parte do discurso.
(
http://www.itweb.com.br/noticias/index.asp?cod=43377 )
Rosenblum tem motivos para estar tão confiante. A excelente oferta
pública inicial, de caráter parcial, da VMware, encheu seus cofres com
aproximadamente US$ 1 bilhão, e sua participação no mercado de
hipervisores parece insuperável. Enquanto isso, o Windows Server 2008,
da Microsoft, que ainda "não entrou em campo", não incluirá um
hipervisor até seis meses depois de seu lançamento.
Mas Bill Gates não se tornou o homem mais rico do mundo perdendo para
a concorrência. Basta perguntar para Steve Jobs e Marc Andreessen.
Embora ambos os executivos tenham se re-habilitado em outros setores,
o Mac OS e o browser da Netscape continuam decisivamente fora do
jogo.
A equipe de Gates já utilizou essa estratégia antes - uma concorrente
ágil, com uma tecnologia inovadora, eventualmente, termina sendo
eliminada pela lenta, mas inexorável, força do domínio de mercado,
característica da Microsoft (erroneamente encorajada pelas, algumas
vezes, desleais práticas de negócios). Mas desta vez, o final pode ser
diferente, porque a virtualização, fundamentalmente, consegue
modificar as regras. A consagrada estratégia da Microsoft poderá não
funcionar, em parte, porque o que lhe dá sua capacidade - o sistema
operacional - está perdendo força.
Isso é porque o sistema operacional de propósito geral está sendo
pressionado por todos os lados. Os fabricantes de aplicativos podem
incluir seus próprios micro-kernels projetados para serem executados
em um ambiente virtual, eliminando a necessidade de um SO convencional
no servidor.
Em segundo lugar e, talvez, mais importante - o hipervisor está se
tornando o principal mediador entre os componentes de um ecossistema
de central de dados. Os fabricantes de pequeno e grande porte estão
desenvolvendo ou aprimorando suas linhas de produtos, a fim de
utilizar o hipervisor como um ponto de controle para monitorar o uso
de recursos, manter e transferir máquinas virtuais, e vincular a
sistemas de armazenamento.
Esses desenvolvimentos não bloqueiam um sistema operacional, mas
minimizam sua influência, especialmente, à medida que mais companhias
aderem à total promessa de virtualização - conjuntos de recursos
generalizados, que podem ser aplicados sob demanda a várias
necessidades de negócios.
Neste ambiente, o sistema operacional está "trancado" dentro de uma
máquina virtual e é disponibilizado de um conjunto de recursos para
outro, como a carga que passa de um contêiner de entrega para outro,
controlado pelo hipervisor.
Observaremos como a virtualização pode modificar esse jogo e
examinaremos as perspectivas da VMware em relação a dominar o ambiente
de servidores e a "colocar de lado" o sistema operacional.
UM SISTEMA OPERACIONAL EM PERIGO?
Aplicativos sempre precisarão de um sistema operacional para serem
executados, certo? Não, com o WebLogic Server Virtual Edition, ou WLS-
VE, da BEA. Ele substitui o SO convencional pela LiquidVM, uma máquina
virtual Java com base em micro-kernel. Por sua vez, a máquina virtual
Java é executada diretamente em um hipervisor VMware, sem a
necessidade do Windows ou do Linux. "Percebemos que o hipervisor havia
diminuído muito do que um aplicativo precisa de um SO", afirma Guy
Churchward, vice-presidente e gerente dos produtos WebLogic, na BEA.
Aplicativos com base em Java são candidatos ideais para serem
executados sem um sistema operacional de propósito geral, porque eles
já são executados dentro de uma MV (máquina virtual) Java, que abstrai
a funcionalidade de SO de variantes do Windows, Linux e Unix. A MV
Java fornece algumas funções de SO, incluindo alocação de memória e
CPU, assim como operações em rede. A BEA acrescentou outros recursos,
tais como gerenciamento de entrada/saída, que, normalmente, são
manipulados por um sistema operacional para a LiquidVM.
Enquanto isso, o hipervisor está lidando com outras funções, tais como
drivers de dispositivo de carga, que geralmente também são gerenciados
pelo sistema operacional. O resultado, comenta Churchward, é que o SO
terminou duplicando completamente a funcionalidade da Java VM e do
hipervisor.
Ao eliminar totalmente o SO, segundo Churchward, o WLS-VE consome de
25% a 50% menos recursos, como memória e ciclos de CPU, ao mesmo tempo
em que aumenta o desempenho geral do sistema. Outros benefícios
incluem o gerenciamento reduzido, porque a TI não precisa manter um
sistema operacional separado.
A First American, uma companhia de serviços de informações sobre
negócios, que faz parte da lista publicada na revista Fortune 500,
executa dois aplicativos na plataforma WLS-VE. Mark Vaughn, gerente de
serviços de hospedagem na Web para o Grupo de Serviços de Informações
sobre Hipotecas, da First American, planeja aumentar o uso do WLS-VE
pela companhia. "Pensando no futuro, previ que quase todas as nossas
implementações da BEA estarão em plataformas virtuais, e observaremos
uma crescente presença do WLS-VE", analisa Vaughn.
Não somente esta arquitetura irá eliminar os custos de gerenciamento
de SOs, de acordo com Vaughn, mas ele também espera um crescimento no
número de máquinas virtuais por servidor físico, por causa do custo
reduzido de um micro-kernel, em comparação com o de um sistema
operacional completo. Além disso, o WLS-VE é compatível com diversos
dos mais populares recursos da VMware, incluindo o VMotion, que
permite que os gerentes transfiram aplicativos de uma máquina física
para outra, sem causar interrupção.
A fabricante de produtos com tecnologia sem fio Qualcomm espera
implementar um ambiente de teste para a Liquid VM em um futuro
próximo. "Esses dispositivos deverão apresentar melhor desempenho e
provavelmente utilizarão menos recursos", declara Paul Poppleton,
engenheiro sênior na Qualcomm. "Implementados corretamente, eles serão
infinitamente mais seguros e exigirão muito menos correções".
Outros profissionais de TI estão intrigados com a proposta de eliminar
o sistema operacional de propósito geral. "Pessoalmente, creio que
essa é uma ótima alternativa", avalia Gregory Smith, diretor de
serviços dinâmicos para a T-Systems North America. A T-Systems, que é
de propriedade da Deutsche Telekom (DT), é uma provedora de serviços
de TI para a DT, a Volkswagen e outras corporações globais. "Um SO
repleto de recursos e que pode oferecer de tudo para todos não é uma
exigência para todos os aplicativos", afirma Smith.
Contudo, nem todo mundo é assim tão entusiasta - particularmente, quem
tem sistemas operacionais para serem vendidos. "É uma idéia ruim",
observa David Greschler, diretor de virtualização integrada da
Microsoft. "O modelo sugere que os fabricantes de aplicativos precisam
se tornar os proprietários desses sistemas operacionais; sendo assim,
você tem 100 aplicativos que estão executando uma versão um pouco
diferente de um semi-SO, e é preciso ter a correção para cada um
deles". Ele afirma que esta abordagem não se expandirá, se mais
fabricantes seguirem o caminho da BEA. Esse sentimento parece ir de
encontro à atual experiência de TI, segundo a qual os sistemas
operacionais são rotineiramente gerenciados por fabricantes de
software independentes.
Greschler também questiona se os ISVs realmente querem assumir a
responsabilidade por desenvolver esses semi-sistemas operacionais, uma
preocupação que Smith, da T-Systems, também demonstra. "Nesse caso,
existem muitas partes a serem adequadas", define Smith. "É necessário
considerar o "nirvana", em que os ISVs fornecem esses contêineres
perfeitamente adequados. Isso parece ótimo, mas existe um longo
caminho a percorrer entre a situação atual e a ideal".
Embora os comentários da VMware sobre os sistemas operacionais de
propósito geral pareçam ser direcionados à Microsoft, a virtualização
também está mudando o jogo para o Linux. A IBM e a Sun Microsystems
vêm posicionando o Linux como uma plataforma para executar aplicativos
com base em Java, mas iniciativas como a Liquid VM eliminam a
necessidade do SO. A First American provavelmente estaria executando
seus aplicativos no Linux, se não estivesse utilizando a LiquidVM, da
BEA, descreve Vaughn.
Os ISVs que quiserem criar micro-sistemas operacionais para outros
aplicativos provavelmente começarão com o Linux, exatamente como os
fabricantes de dispositivos fazem atualmente. Ainda o Linux? Bem, de
alguma forma, sim. Você estará executando o núcleo do Linux, mas em
vez de conseguir isso a partir da IBM, Red Hat ou Novell, terá uma
versão adequada ao cliente, a partir de seu ISV.
NÃO TÃO RÁPIDO
Existem os aspectos negativos de se executar aplicativos sem um
sistema operacional.
A First American não pode instalar clientes de terceiros na
plataforma. "É necessário encontrar um driver Java ou permanecer com
um SO tradicional", esclarece Vaughn. Ele nota que uma pequena
porcentagem de suas implementações continuará em um sistema
operacional convencional, por causa dessa questão.
Outros recursos que os usuários podem considerar úteis também foram
removidos. Não existe GUI (Graphical User Interface ou Interface
Gráfica com o Usuário), e não existe suporte técnico para dispositivos
locais, incluindo impressoras. E em vez de utilizar um disco rígido
local, o WLS-VE precisa recorrer a armazenamento conectado em rede.
O gerenciamento também é um problema. Muitos produtos de gerenciamento
de sistemas e de gerenciamento de aplicativos interagem com o sistema
operacional. Sem o SO para atuar como mediador, os processos de
gerenciamento de TI já existentes, como a capacidade de gerar
automaticamente etiquetas de identificação de problemas (trouble
tickets), podem precisar ser aprimorados.
Talvez, até seja preciso um software de gerenciamento adicional. Nesse
caso: a BEA está desenvolvendo o Liquid Operations Center, um sistema
com base em agentes, que implementa e gerencia aplicativos Java
virtualizados e não-virtualizados. Se outros fabricantes de
aplicativos adotarem a abordagem da BEA, eles também introduzirão seus
próprios sistemas e agentes de gerenciamento, aumentando o número de
consoles independentes no ambiente de TI.
Naturalmente, a BEA não está propondo que todos os sistemas
operacionais de propósito geral devem ser descartados. O WLS-VE é
destinado a arquiteturas orientadas a serviços, em que uma série de
serviços é reunida, geralmente, durante sua realização, a fim de criam
um uberservice. Quanto mais flexível e dinâmico você tornar esses
componentes, maior a eficiência que você pode obter da arquitetura.
No momento, a Liquid VM é executada apenas no servidor ESX, da VMware,
mas a BEA afirma que ela será compatível com o hipervisor da
XenSource, até o final deste ano. A companhia também pretende oferecer
compatibilidade com o futuro hipervisor da Microsoft.
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http://www.itweb.com.br/noticias/index.asp?cod=43377 )