Questão de sorte
Cecília Dionizio
A sorte, ao contrário do que possam pensar algumas pessoas, nem sempre
escolhe quem será premiado com o dom. O tema abstrato está muito mais
associada à percepção do que a qualquer outra sensação. Por isto
mesmo, não raras vezes, a oportunidade é ignorada por quem não
consegue atentar para o fato de que do céu, raramente, cai outra coisa
que não chuva e aviões. Embora amuletos diversos sejam comercializados
aos montes, prometendo atrair a sorte, é muito raro encontrar quem, de
fato, tenha sido premiado na loteria, por exemplo, só por ter
adquirido um cristal da sorte ou um trevo de quatro folhas. Ainda que
seja esse o argumento utilizado por alguns. A maior parte das pessoas
imediatamente liga o sentimento de alegria mal disfarçada à sorte, mas
quem estuda comportamento, como o professor da Universidade Federal de
São Paulo, José Roberto Leite, que coordena a Unidade de Medicina
Comportamental do Departamento de Psicobiologia da universidade,
afirma que este é um sentimento praticamente intrínseco a quem se
habitua a ver o lado bom das coisas.
"Pensamentos e emoções caminham juntos e é preciso restringir a
ansiedade, a depressão, a timidez, o ressentimento e a raiva pois são
sentimentos que afastam quem poderia estar disposto a colaborar",
afirmou recentemente na revista Seleções. Para os observadores
contumazes não existe sorte e sim percepção aguçada, que associada ao
tino para aproveitar a ocasião resulta em sucesso. O antropólogo
Carlos Casta eda escreveu certa vez, que ao abaixar-se para amarrar um
cadarço a pessoa deveria faze-lo de maneira impecável. Na visão do
psicólogo gestaltista Hugo Ramón Barbosa Oddone, de Rio Preto, é desta
forma que a sorte se apresenta: "Quando você tiver de fazer algo, deve
fazer na hora certa e da melhor forma possível", diz. Segundo o
gestalt-terapeuta, as pessoas entendem por sorte qualquer coisa como
renunciar à condução das suas próprias vidas e se deixar levar pelo
destino, pela fatalidade, um pouco no estilo 'maria-vai-com-as-
outras'.
E ao fazer isto, muitas ainda esperam vencer, sem saber que estão
brincando de roleta russa com a vida. Alguns conseguem acertar, mas a
maioria perde. A falta de sorte para o gestaltista nada mais é do que
auto-estima baixa. "Não é sorte que falta, o que sobra é excesso de
autocrítica, de perfeccionismo. É uma introjeção de valores e críticas
parentais que, de uma forma ou outra, acaba com a auto-estima e
qualquer lampejo de vida e criatividade da pessoa", observa Hugo
Ramón. O psicólogo vê na insistência da postura a incapacidade de
reavaliar metas para tentar de novo. A saída para mudar o estado de
"azar" atual é fazer uma avaliação da auto-estima e começar a se
valorizar, por mínimo que seja. É quando a sorte começa a mudar. Sorte
é valorizar essa singularidade, saber-se único e especial. Para tanto,
é preciso desenvolver uma espécie de magnetismo, um carisma especial,
que atrai pessoas. Isto sim, pode ser chamado de sorte. No mais das
vezes, Hugo explica que ter sorte é ter fé. Afinal, somos feitos da
mesma essência e, portanto, é preciso viver essa fé cotidianamente.
Acreditar nos pequenos e grandes mistérios da vida ajuda a desenvolver
essa sorte. Porém, há também situações não tão boas, ou verdadeiras
tragédias, que contribuem para o crescimento, para um amadurecimento.
Ou seja, a "má sorte" também faz crescer, apesar de haver quem diga
que o excesso de sorte atrai também a inveja, maledicências e mau-
olhado. Por outro lado, o americano James Redfield, autor de "A
Profecia Celestina" (editora Objetiva), diz em seu livro que a sorte
está atrelada a um novo conhecimento. "A vida, na verdade, é um
desdobramento espiritual, pessoal, fascinante - um desdobramento que
nenhuma ciência, filosofia ou religião esclareceram completamente
ainda", descreve. Se na hora em que o fato positivo se apresenta, em
vez de suscitar dúvidas e se perder em distrações, a pessoa transforma
o momento em uma realidade duradoura, pode mudar tudo.
O gestalt terapeuta Hugo Ramón, contudo, não acredita na sorte pura e
simples, mas sim no desenvolvimento dos dons que estão ligados ao
cérebro direito. Ele explica que este lado do cérebro é o da intuição,
que tem a ver com a luz, com as origens, a renovação, a inocência, a
simplicidade, a espontaneidade. A alegria em acreditar naquilo que não
se vê, na calidez do espírito, na pureza, na confiança, na esperança,
na aceitação sem críticas, no amor que não questiona, na coragem, na
honestidade, no nascimento, na infância, na iluminação, na capacidade
de guiar e de se expressar poeticamente e de se concentrar e viver o
presente. Portanto, ter sorte significa viver tudo de maneira intensa.
Segredos da sorte:
>> Presuma sempre que ela está ao seu lado;
>> Controle as emoções negativa;
>> Mantenha a mente aberta a novas oportunidade;
>> Dedique algum tempo do dia a si mesmo, pare, olhe, sinta e escuta;
>> Lembre-se de que poderia ser pior;
>> Alegre-se e guarde na memória momentos gratificantes;
>> Pense que tudo está ao seu alcance, apenas mova-se;
>> Controle a inveja;
>> Mantenha-se antenada e
>> Busque o lado positivo de tudo, sempre.
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