O anarquismo não possui profetas

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Hannah BLUE

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Nov 1, 2007, 12:34:04 AM11/1/07
to Midiateca da HannaH
"O poder é algo a ser descentralizado, já que a busca pelo poder é uma
das causas de nossa desunião. O único poder que conheço é o do amor, e
este já têm seus donos: cada um de nós".
Ustharat


"Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus".
Mateus, capítulo 22, versículo 21.

APRESENTAÇÃO

Este livrinho é uma coletânea de alguns textos e poemas que
escrevi no decorrer de minhas reflexões e de minhas paixões. Embora a
maioria deles já tenha sido publicada em Zines, panfletos ou páginas
da NET, uma boa parte conserva-se inédita e achei interessante reuni-
los em um só trabalho. Não encontrei nenhum título que expressasse
literalmente o que eu senti enquanto o escrevia e acabei chamando-o de
Amor e Anarquia. Na verdade, o fruto de minha inspiração foi ter
encontrado Tainá. O Primeiro Raio do Sol me revigorou todas as forças
espirituais.
Bem, no mais fico por aqui, desejando uma boa leitura para tod@s.
Beijos e abraços.


INTRODUÇÃO

Para alguns historiadores e cientistas sociais, o anarquismo
teria sido a fase inicial e ainda não evoluída do pensamento
socialista, a "criancice" do movimento operário que já foi superada
pelo socialismo científico. Para outros, o anarquismo será a última
fase, o estágio final da evolução da sociedade, no qual os seres
humanos serão tão conscientes e inteligentes que não mais precisarão
nem dos governos nem dos Estados. E para muitos outros, anarquia é
simplesmente desordem, bagunça, desorganização e caos, quando não for
simplesmente um sonho inatingível.
Desculpem-me, irmãos, mas vocês encontram-se em pura confusão de
idéias. Ainda precisam estudar muito se quiserem ter realmente uma
opinião razoável sobre o assunto. Não que eu seja um sábio ou um
mestre: assim como vocês, estou bem longe disso. E como o velho
Sócrates, eu só sei que nada sei... A questão é que sou anarquia, e
que eles também são anarquia. Nós nos entendemos e transamos muito
bem. Resolvemos nossa vida independente de opiniões e legalidades
ridículas e ultrapassadas, tão ultrapassadas quanto os catecismos dos
tutores governamentais. Estamos sempre criando. Não vivemos de
repetições cadavéricas.
O anarquismo não possui profetas, embora tenha profetizado
verdades discutíveis no decorrer da história. Nunca estabeleceu uma
estagnação do caminhar humano. Para nós, o caminhar só terá fim quando
a vida deixar de existir.
A essência da liberdade é um mundo em que cabem vários mundos; é
a organização e a ação direta ao invés dos governos centralizados e
das burocracias; é a autogestão e a autonomia, o cooperativismo e a
ajuda mútua ao invés da competição; é o internacionalismo ao invés das
fronteiras, das bandeiras e dos hinos nacionais; é a paz ao invés da
guerra, mesmo a guerra sendo inevitável; é o ateísmo e o panteão dos
deuses greco-romanos coexistindo em harmonia, em plena troca de
carícias sexuais. É ter o Universo como pátria e o amor como política.
Bem, jovens, isso é o que compreendo e vivencio como anarquia. As
outras anarquias não são muito diferentes de mim. Creio que os
anarquistas do passado concordariam comigo se estivessem aqui.

CHEGA DE RACISMO!!! SOMOS A RAÇA HUMANA!!!
PRIMEIRA PARTE:
HISTÓRIAS DE AMOR


PARA ESFRIAR A CABEÇA

Durante a Revolução Russa, Trotsky mandou desativar os Nabats
(encontro das várias anarquias) acusando-nos de contra-
revolucionários. Logo mais, foi buscar apoio do exército negro para
combater as tropas da reação monarquista, isso antes de trair de vez a
população libertária de Gulai-Polé e de toda a Rússia, apresentando
autos graus de canalhice oportunista.
Sabemos que alguns poucos bolcheviques eram simpatizantes da idéia
anárquica, situação um tanto quanto preocupante ao partido comunista.
Trotsky já havia declarado que os Nabats só poderiam ocorrer se fossem
submetidos às ordens do partido, quando os anarquistas desobedeceram e
ainda convidaram alguns bolcheviques de base para participar dos
encontros. Os camponeses de Gulai-Polé nunca precisaram de uma "cúpula
campesina" orientando suas ações em nome do comunismo libertário e
pretendiam continuar assim. Logo foram declarados contra-
revolucionários.
Contra-revolucionários ou contra as imposições dos intelectuais
vermelhos? A mentira, a traição e o assassinato foram a saída
encontrada por Trotsky para dissolver e dizimar a população libertária
da Ucrânia e de toda a Rússia: após uma trégua entre os exércitos
negro e vermelho e do vitorioso combate sobre os brancos, um encontro
de confraternização havia sido marcado, no qual compareceriam grande
parte de anarquistas. Quando menos se esperava, todos foram fuzilados.
Nestor Makhnó e suas tropas ainda resistiram alguns meses e ainda
obtiveram pequenas vitórias sobre os traidores bolchevistas, mas a
derrota foi inevitável.
Havia uma tipografia e livraria chamada Golos-Truda que era um
dos principais órgãos propagadores das obras e dos jornais
anarquistas. Os bolcheviques destruíram-na três vezes, embora a
propaganda de liberdade de imprensa feita pelo "Estado Operário" fosse
intensa. Os anarquistas reconstruíram a Golos-Truda duas vezes, antes
de serem presos uns e assassinados outros.
Nas fotos e nos relatos do funeral de Piotr Kropotkin podemos
observar e analisar, em partes, a situação do movimento anarquista
russo. No dia de seu enterro, centenas de trabalhadores libertários
que haviam sido presos pelos bolcheviques ganharam (que ironia
ridícula!) o direito de organizar e participar do funeral. Tão logo
finalizado fosse o ritual, morreriam fuzilados mais da metade.
E há quem diga que Stálin foi o único culpado por toda a
barbárie... Há quem diga também que os únicos anarquistas russos
estavam em Kronstadt.

. . .

Para os ex-anarquistas que formaram o P.C.B. aqui no Brasil em
1922, o caminho mais fácil para a expansão do "comunismo" foi a
detonação não só teórica mas também física do pensamento e dos
militantes do socialismo libertário. Estratégia não muito diferente
da que havia sido tomada por seus camaradas russos. Como o governo já
havia instalado um campo de concentração no Oiapoque onde centenas de
anárquicos eram presos e assassinados, não foi muito difícil para os
marxistas desorganizarem o pouco que restava.
Após 1917, o mundo curvou-se perante a Revolução Russa. Muitos
aderiram ao bolchevismo acreditando que aquele sim seria o caminho
para as transformações sociais. Pobres iludidos que até hoje persistem
nessa idéia... chegam até a morrer pela instituição de novas
hierarquias. Mesmo com os resultados obtidos e apresentados, as turmas
ainda entram em apaixonado delírio revolucionário. Maldita ditadura
chinesa, que deixa inocentes crianças morrerem de fome, abandonadas em
recintos putrefatos. Maldita ditadura soviética, que até 1970 mandava
aos hospícios os artistas que sonhavam com um mundo melhor, que
torturou, assassinou e deixou morrer de fome mais seres humanos que o
próprio nazismo! Malditas sejam todas as ditaduras e todos os
ditadores do planeta! Comboio de oportunistas miseráveis! A
Providência não deixará que os tiranos fiquem impunes.
Bem, já estou esfriando os nervos. Neste momento, uma coisa ainda
me chama a atenção: por qual motivo nossa esquerda não comenta os
fatos ocorridos de 1936 a 1939, na Espanha? Por acaso os marxistas não
participaram daquela revolução?
Para os que afirmam que no anarquismo não há organização, a
história nos mostra que já em 1934 a C.N.T. possuía 1.577.000 filiados
e a U.G.T. 1.444.000. Cada um desses números ultrapassou
grandiosamente o P.S.O.E. e o P.C.E., que juntos não possuíam mais que
213.000 filiados.
Na Revolução Espanhola as terras e os meios de produção, assim
que resgatados, já eram coletivizados. As federações espalhavam-se aos
montes, a autogestão passou a ser posta em prática e a produção, ao
invés de decair como afirmavam os teóricos elitistas, cresceu. O povo,
os estudantes e os trabalhadores, homens e mulheres, trataram de suas
próprias vidas e de seus próprios negócios, independente de qualquer
ditadura proletária. Até que Stálin e sua sede pelo poder, em nome de
uma pretensa ajuda à revolução, acabou por desestruturar
definitivamente o povo espanhol. Afim de dirigir a luta através de um
partido único, investiu contra as milícias. Hitler e a reação
franquista também não tardaram em atacar a experiência socialista, e a
Revolução acabou indo por água abaixo.
. . .

Pronto. Por enquanto chega. Já esfriei a cabeça, agora vou
dormir. Só uma lembrancinha àqueles que acreditam que anarquismo é
coisa do passado: lembrem-se que a C.N.T. espanhola e que o C.C.S.
brasileiro, assim como inúmeras organizações libertárias, ainda
existem e resistem em todo o mundo. Lembrem-se de Seatle e de Praga,
observem os "1º de Maio", os grupos ecológicos, a Ação Global dos
Povos, escutem o Raul Seixas que vocês tanto curtem, etc.

Salve a Revolução Social!!!

16/04/2001. Inspirado no mini-curso "Anarquismo e historiografia:
aspectos da construção de uma memória anarquista", ministrado pelo
anárquico historiador Alysson Bruno, nos dias 12 e 13 de Abril de
2001.

"VAI TER COM A FORMIGA, Ó PREGUIÇOSO; OLHA PARA OS SEUS CAMINHOS, E SÊ
SÁBIO! ELA NÃO TEM SUPERIORES, NEM OFICIAL, NEM DOMINADOR, CONTUDO NO
VERÃO PREPARA SEU PÃO, E NA SEGA AJUNTA SEU MANTIMENTO".

Provérbios de Salomão, capítulo 6, versículos do 6 ao 8.

JÁ SE FOI

Tu que sempre estás escondida
No coração dos irmãos da escuridão e da saudade
Olha para nós como queridos
Pois somos filhos da tortura e da maldade

Tu que vives entre as máscaras do medo
Que nem sois água, nem fogo, terra ou ar
Vem quando chamamos hoje e agora
Vem sem medo pois chega a hora
já se esvai nosso luar

Carrega a dor que nos trouxeram
Destrói a fome, a peste e os governos
E te teremos para sempre em nossas mentes
Como a mais linda de todas as noites
Aliás, é isso que tu nunca deixas de ser

Vem que a carruagem te espera
Vem que a tocha ainda arde.
Antes que a lua se apague e que o sol deixe de dar sua luz

15/04/2001

TAINÁ

Como a lua é a santa luz da noite
A mãe celeste dos céus em escuridão,
Pela manhã me ilumina e me resgata
O raio de um sol, transformação.

Tranqüila e linda árvore
Cujas flores ainda tocam meu jardim
Se outrora me permitido fosse
Te levaria ao som do amor sem fim

Como a lua, sagrada mãe do oculto
E como a brisa da manhã em livre arbítrio
O primeiro raio do sol
Rompeu as trevas atuais em que habito.

16/04/2001


DE VOLTA À REALIDADE

A coroa de flores nos teus cabelos
Me trouxe deliciosas lembranças...

Do tempo em que éramos um
Do dia em que nos conhecemos

Na noite em que fomos a mais feliz criação do universo, as Igrejas
calaram e curvaram-se perante nosso calor
Os céus e a terra sorriram
As escolas ensinaram uma nova forma de viver
Nenhum ser vivo morreu naquele instante

Teu doce cheiro me fez bem...
Assim como o meu toque te fez sonhar
Tua voz ainda ecoa em minha alma
Nossos espíritos ainda pairam sobre o mar

Infelizes são aqueles que não acreditam no amor
Que não criam nada, só reproduzem suas desgraças
Que não dão chances a quem gosta de sorrir
E ridicularizam tudo o que para eles for desconhecido

A vela acesa a tua esquerda
Me resgatou de volta à realidade.

16/04/2001
LIBERTÁRIOS

Uma parte mínima do povo que luta pelo amor, liberdade e
igualdade de todo o povo. Esses são os libertários. Lutam pelo povo, e
não por um novo governante ou um líder revolucionário. Os anarquistas
não querem chegar ao poder. Aliás, a descentralização constante até a
total dissolução do poder é o objetivo de todo anarquista. Querem que
todas ou a maioria das pessoas estejam interessadas e que existam
meios diretos de participação e construção na organização econômica,
cultural e política da sociedade.
A existência dos governos dá provas de desigualdade social. É bem
mais que lógico: enquanto existirem formas de governo, existirão
classes sociais e conseqüentemente desigualdade. Se há classes,
logicamente há ricos e pobres, possuidores e despossuídos,
exploradores e explorados. Muitos críticos do anarquismo afirmam que
sem governo ou centralização, não há organização. Esses indivíduos,
além de não compreenderem ou de nunca terem ouvido falar de
autogestão, possuem uma compreensão bem limitada do que se chama
liberdade. A maioria das pessoas, por motivos que não comentarei
agora, é descrente de si e para si mesma. Não percebem que através da
vontade e da união, seriam capazes de criar e organizar bem mais que
qualquer governo existente até então. Muitas dessas pessoas que são
contra a anarquia, localizam-se em uma alta posição social
(financeiramente falando). E é por isso que são contra: se não houver
capital, privilégio e propriedade privada das terras e dos meios de
produção, como os parasitas irão viver? A realização da anarquia
traria para cada um de nós, toda a responsabilidade pela organização e
administração da saúde, da educação, da segurança, das artes, etc. Os
organismos estatais construídos de cima para baixo e distantes do
contato popular seriam substituídos pelas decisões e ações das comunas
e federações que seriam, por características próprias de qualquer
organização libertária, controladas diretamente pelo povo. Liberdade
exige muita (e bota muita nisso!) responsabilidade. Para ser
responsável é preciso querer, e para querer é preciso acreditar,
fazendo também com que outros acreditem e queiram. Eis aqui o senão
único, mas principal motivo da propaganda pela ação no movimento
libertário: ela da provas de que "a utopia é possível". Salve Chiapas.
Sou anarquista, a princípio, por nem querer nem ser escravo nem
querer ser senhor. Conseqüentemente não sou senhor, mas ainda continuo
sendo escravo. Para deixar de ser escravo, preciso me libertar
completamente dos senhores que me escravizam psicológica, física e
espiritualmente.

Zine "A Fonte dos Loucos", Março de 2001.

ANARQUISMO CRISTÃO

Antes de me identificar como anarquista, era e ainda sou cristão.
O materialismo histórico não me provou muita coisa, analisou somente o
que posso tocar e parou por aí. Também não submeto minha fé às
especulações da ciência. Acredito no oceano, e para isso não preciso
dividi-lo em garrafas e analisa-lo enfadonhamente. Isso seria tão
ridículo quanto tentar medir, datar e dar número ao infinito, quanto
tentar compreender o todo através de caminhos parciais. A Inteligência
Universal é insondável: aqueles que sentem prazer em perder tempo que
o tentem fazer.
O Universo é tão complexo quanto nossas mentes. Como havia dito
um dos pais de nossa Arte, o sábio Trimegistus: "O que está em cima é
como o que está em baixo", assim somos nós, imagem e semelhança de
Deus. Da mesma forma que não compreendemos por completo nossas mentes,
não compreenderemos, senão supostamente, o universo, a razão cósmica
de ser do Ser.
Infelizmente, no próprio movimento anarquista, questões como
preconceito e sectarismo ainda sobrevivem. Não são poucas as críticas
destrutivas que recebo. Não que eu esteja fechado às críticas,
totalmente o contrário. A questão é que, ao me acusarem de dogmático
por ser teísta, não percebem que levantam e imputam um outro dogma,
uma outra verdade absoluta chamada ateísmo que, idêntico a crença, só
existe, cientificamente falando, em tese. Portanto, camaradas ateus,
não percamos tempo em tiragens cansativas que não levam a lugar
nenhum. É mais importante, para todos nós, enveredarmos na luta por um
mundo em que caibam vários mundos.
Destruam toda a fé que esta geração deposita em Deus, aniquilem
todo e qualquer sentimento e pensamento considerado "divino", e a
próxima geração terá um novo trabalho: o de construir tudo novamente.

16/04/2001

INDIVÍDUOS ANÁRQUICOS

O anarquista, como indivíduo, é aquele que busca resolver seus
próprios problemas e organizar sua própria vida, que nem quer ser
governado nem quer governar, já que acredita no potencial
organizacional e criativo da espécie humana. É, por excelência,
inimigo número um das formas centralizadas e hierárquicas de
organização social, já que busca a descentralização e a participação
direta nos negócios públicos.
Somos internacionalistas, pois para nós não há pátria maior e
infinitamente mais bela que o Universo. É por nosso mundo que devemos
lutar, e não por um delimitado espaço de terras e uma bandeira, que
por sinal, têm sido causa de muitas e muitas guerras entre os povos do
planeta.
Para muitos anárquicos, Deus é uma mentira. para outros, não há
Deus senão o homem. Para mim, amar a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo é a máxima expressão de liberdade, igualdade e
fraternidade.
Os anarquistas se organizam de acordo com suas afinidades.
Constroem federações para descentralizar a resolução de seus problemas
e coletivizar o conhecimento e as necessidades que possuem. As formas
de organização libertárias são completamente diferentes das formas de
organização partidárias. Em nosso meio não há hierarquias, nem
"centralismo democrático", nem presidentes, nem chefinhos. Somos todos
iguais e, embora uns tenham mais facilidade para falar que outros e
que outros tenham mais conhecimento que uns, buscamos compartilhar
nossas faculdades naturais e adquiridas para que todos sejam capazes
de tudo. Desde o princípio, descentralizamos e estilhaçamos o poder.
Somos contra as eleições. Embora tenhamos votado algumas poucas
vezes no decorrer da história, não acreditamos nessa saída que nos é
apresentada pela burguesia. Esse tipo de democracia elitista não passa
de uma máscara. A burocracia, os governos, as polícias e o capitalismo
continuam vigentes após a farsa do voto, sem falar que continuamos sem
manter contato direto com as coisas públicas, já que delegamos nossa
liberdade e capacidade de ação e organização a um poder maior. Como já
dizia uma banda punk, "o voto é uma arma que não temos contra quem
usar".
Ora, para nós, os fins não justificam os meios, mas os meios
condicionam os fins. Se o meio é autoritário, o fim não será muito
diferente. Se derrubarmos um governo e levantarmos um outro,
deixaremos de ser governados e passaremos a nos autogovernar? De forma
equivalente, como podemos buscar a descentralização através de uma
centralização maior? Isso é extremamente contraditório e ridículo.
Acabamos caindo em um círculo vicioso. Para derrotar de uma vez por
todas os autoritarismos, as tiranias, as burocracias e a escravidão,
precisamos, como já dizia Ricardo Mella, ter "a liberdade como base, a
igualdade como meio, a fraternidade como fim".
16/04/2001

SEGUNDA PARTE:
VAMOS TOMAR O PODER...
...VAMOS TOMAR NO CU.


@ ESTUDANTE LIVRE

Graças ao auto grau de idiotice que consumimos diariamente,
graças a todo o sentimento nacionalista/patriota que nos é jogado pela
rede globo e os demais meios de comunicação, graças à desunião que
enfrentamos devido a nossa "esquerda revolucionária" que transforma
tudo em pizza e graças a nosso governo autoritário/ditador, é que
estamos cada vez mais fudidos. O Movimento Estudantil atualmente
encontra-se nas mãos de partidários de várias facções. Quase todos os
grêmios estudantis abandonaram seus objetivos para fazer propaganda
política e poucos são os(as) estudantes que ainda lutam por seus
direitos, a grande maioria prefere esperar sentada que alguém resolva
seus problemas. O caso mais recente foi o roubo cometido pela UMES
(organização responsável pelas carteiras de estudante). No ano
passado, a UMES pediu um preço absurdo pelas carteiras, e até hoje
várias não foram entregue (sem falar que boa parte das que vieram
tinham seus dados errados). Esse tipo de coisa irá continuar
acontecendo sempre, a menos que nós estudantes nos unamos, nos
organizemos e contestemos essas falcatruas. As leis não só das escolas
mas de todo esse Bra$il são escolhidas e executadas pelo governo sem
nossa participação ou opinião, logo nós que movemos o mundo com nossa
força de trabalho e nosso conhecimento, que se não fossem os impostos
que pagamos não existiria nem escola, nem prefeitura, nem rua, nem
nada, abaixamos nossas cabeças e atamos nossas mãos perante tudo o que
acontece. Estamos calados de propósito ou simplesmente com preguiça?
Pois da mesma maneira que na época da ditadura o carnaval e o futebol
alienavam o povo para que não vissem a realidade, hoje o sexismo do
Tchan e companhia nos vem alienando. Tudo isso e muito mais para que
não enxerguemos a real situação. Abra os olhos, dê um basta à
alienação, precisamos acabar de uma vez com toda essa desgraça. Até
quando seremos explorados? Já vão fazer 500 anos.
Estudante, não deixe que escolham por você, não deixe suas
atividades nas mãos de terceiros, não entregue seu destino aos
partidos. Lute! Conscientize quem necessita, questione as autoridades
porque elas são parasitas que se alimentam do nosso sangue. Acorde e
veja que nossa realidade não é um mar de flores e sim um mar de merda.
Informativo "Estudante Livre". Nº1, meados de 1997.

NÃO!

Não beba
Não fume
Não cheire
Não corra
Não transe
Não durma...

O partido diz: Não!
O governo diz: Não!
Sua mãe diz: Não!
O pastor diz amém
E o padre também
Diz amém à sua miséria
Por que você não morre logo?

Não beije
Não toque
Não sinta
Não chupe
Não goze
Não tome meu esperma
Que tal um copo de suco?

Meados de 2000


É MAIS DIGNO SER UM MENDIGO QUE SER UM MILITAR!

O Estado pariu o mendigo
O mendigo vive a esmolar
O Estado pariu o militar
Para a burguesia ele guardar
O militar é explorado
E o mendigo mais ainda
O mendigo pede à elite
Mas o militar o extermina
O mendigo apanha
O militar é quem bate
E o Estado
Cada vez mais os abate.
Um pede outro toma
Um chora outro espanca
Um usa outro trafica
Ambas as mortes são esperadas
Pela minoria rica.
Chega de mentiras, autoridade, repressão, violência gratuita e sonhos.
"Amar a bandeira de um país é morrer por um pano pintado!"
Zine "Subversão". Nº6, meados de 1998.

Mais suave que a brisa noturna
Mais brilhante que estrela cadente
Mais perfumado que um milhão de tulipas
É você.

Os pássaros não cantam como você fala
A lua não brilha mais que seus olhos
O fogo nem se compara comigo por causa
De você.

Mergulho na escuridão
E no mais violento sofrimento
Tenho esperanças de um dia
Você vir me livrar desse tormento.

Zine "Amor, Liberdade e Outros Coisas sem Sentido", mrados de 1997.

VOTE NULO, NÃO SUSTENTE PARASITA!

Cada voto que usamos para mudar a situação
Perpetua-se o sistema e é pior a exploração
Enquanto nos dividimos felizes a votar
Somente vai enfraquecendo o movimento popular
Na direita ou na esquerda o poder ainda é poder
Valoriza uma classe e as outras vão se fuder
Todo líder é autoritário todo sistema é patrão
Rouba nossa líberdade destrói nossa união
A esquerda e a direita lutam pau-a-pau para ver quem vai nos
explorar.. .
Desculpe, quis dizer governar
De um lado a pátria e do outro o patrão
Morte ao patriotismo viva a autogestão
E se cada dia que passa sua revolta é mais tardia
Tome consciência e junte-se a Anarquia!
Vote nulo! Não Sustente Parasita! Não venda sua Revolta! Vá à luta!

Panfleto. Meados de 1997.


OUTRAS PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS DA CANÁRIA NEGRA:

? Comunismo Anárquico - vários escritos sobre a filosofia anarquista
(vários autores, 1998). !!!ESGOTADO!!!
? Revolução Social - análises sobre Revolução (Rômulo Angélico, 1998).
R$ 2,00. Por correio: R$ 3,00.
? ROMERO - o dia-a-dia de um jovem anarquista e suas paranóias (Rômulo
Angélico, 1998). R$ 5,00. Por correio: R$ 7,00.

PRÓXIMOS LANÇAMENTOS:

? Kaos Magick e Zos Kia Cultus - teorias e práticas de ocultismo
caótico (coletânea, vários autores).
? A grande Arte - Magia (Rômulo Angélico).

CONTATOS:

@s interessad@s escrevam para Rômulo Angélico, Rua dos Paiatis Nº
1835, cep.: 59037-150, Alecrim, Natal/RN, ou para
histor...@bol.com.br.
Se alguém estiver afim de trocar uma idéia, meu fone é (084)
653-3758. Estou aberto a trocas de materiais, de preferência,
materiais alternativos sobre anarquia e ocultismo.

O QUE ELES FAZEM COM OS IMPOSTOS QUE PAGAMOS?

Pagamos impostos de tudo. Lutamos durante anos, trabalhamos
arduamente para comprar um pedaço de terra (terra que deveria ser de
todos), depois lutamos mais ainda para construir uma casa, e ainda
temos que pagar um tipo de imposto 'a prefeitura senão perdemos tudo.
Todas as coisas que pagamos já estão com impostos incluídos, e
para onde vai esse dinheiro? O governo engana a população asfaltando
algumas ruas ou distribuindo leite. Será que tudo o que pagamos se
resume a isso? Já somos explorados diariamente trabalhando demais e
recebendo uma miséria, e ainda temos que pegar essa miséria e dar uma
grande parte ao governo. Trabalhamos apenas para encher os cofres do
sistema. Os políticos já estão acostumados com isso e a única coisa
que fazem é planejar outras mentiras para continuar explorando. Porque
continuamos a votar em pessoas que só nos roubam? O que adianta dizer
que o problema está em um atual governante de uma cidade, se depois de
quatro anos entra outro e rouba do mesmo jeito ou pior? Faltam
medicamentos nos hospitais. Falta até água, as escolas estão sem
professores, a polícia desconta o baixo salário na população, está
ficando cada vez mais lastimável a situação.
Não adianta culpar governo A ou B, o defeito é a atual forma de
governo, que é uma ditadura encoberta, pois quem está no poder só
pensa em sua própria vida, vivendo muito bem as nossas custas. Será
que vamos trabalhar a vida inteira para alimentar os parasitas?
Reflita.

Um de meus primeiros textos
Zine "Lutando pela Liberdade". Nº2, início de 1997.


Edições Canária Negra
Sem direitos, sem reservas e sem copryght
Natal, Abril de 2001

"O poder é algo a ser descentralizado, já que a busca pelo poder é uma
das causas de nossa desunião. O único poder que conheço é o do amor, e
este já têm seus donos: cada um de nós".

Ustharat


"Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus".

Mateus, capítulo 22, versículo 21.


APRESENTAÇÃO
Este livrinho é uma coletânea de alguns textos e poemas que
escrevi no decorrer de minhas reflexões e de minhas paixões. Embora a
maioria deles já tenha sido publicada em Zines, panfletos ou páginas
da NET, uma boa parte conserva-se inédita e achei interessante reuni-
los em um só trabalho. Não encontrei nenhum título que expressasse
literalmente o que eu senti enquanto o escrevia e acabei chamando-o de
Amor e Anarquia. Na verdade, o fruto de minha inspiração foi ter
encontrado Tainá. O Primeiro Raio do Sol me revigorou todas as forças
espirituais.
Bem, no mais fico por aqui, desejando uma boa leitura para tod@s.
Beijos e abraços.

Rômulo Angélico

INTRODUÇÃO

Para alguns historiadores e cientistas sociais, o anarquismo
teria sido a fase inicial e ainda não evoluída do pensamento
socialista, a "criancice" do movimento operário que já foi superada
pelo socialismo científico. Para outros, o anarquismo será a última
fase, o estágio final da evolução da sociedade, no qual os seres
humanos serão tão conscientes e inteligentes que não mais precisarão
nem dos governos nem dos Estados. E para muitos outros, anarquia é
simplesmente desordem, bagunça, desorganização e caos, quando não for
simplesmente um sonho inatingível.
Desculpem-me, irmãos, mas vocês encontram-se em pura confusão de
idéias. Ainda precisam estudar muito se quiserem ter realmente uma
opinião razoável sobre o assunto. Não que eu seja um sábio ou um
mestre: assim como vocês, estou bem longe disso. E como o velho
Sócrates, eu só sei que nada sei... A questão é que sou anarquia, e
que eles também são anarquia. Nós nos entendemos e transamos muito
bem. Resolvemos nossa vida independente de opiniões e legalidades
ridículas e ultrapassadas, tão ultrapassadas quanto os catecismos dos
tutores governamentais. Estamos sempre criando. Não vivemos de
repetições cadavéricas.
O anarquismo não possui profetas, embora tenha profetizado
verdades discutíveis no decorrer da história. Nunca estabeleceu uma
estagnação do caminhar humano. Para nós, o caminhar só terá fim quando
a vida deixar de existir.
A essência da liberdade é um mundo em que cabem vários mundos; é
a organização e a ação direta ao invés dos governos centralizados e
das burocracias; é a autogestão e a autonomia, o cooperativismo e a
ajuda mútua ao invés da competição; é o internacionalismo ao invés das
fronteiras, das bandeiras e dos hinos nacionais; é a paz ao invés da
guerra, mesmo a guerra sendo inevitável; é o ateísmo e o panteão dos
deuses greco-romanos coexistindo em harmonia, em plena troca de
carícias sexuais. É ter o Universo como pátria e o amor como política.
Bem, jovens, isso é o que compreendo e vivencio como anarquia. As
outras anarquias não são muito diferentes de mim. Creio que os
anarquistas do passado concordariam comigo se estivessem aqui.


CHEGA DE RACISMO!!! SOMOS A RAÇA HUMANA!!!
PRIMEIRA PARTE:
HISTÓRIAS DE AMOR


PARA ESFRIAR A CABEÇA

Durante a Revolução Russa, Trotsky mandou desativar os Nabats
(encontro das várias anarquias) acusando-nos de contra-
revolucionários. Logo mais, foi buscar apoio do exército negro para
combater as tropas da reação monarquista, isso antes de trair de vez a
população libertária de Gulai-Polé e de toda a Rússia, apresentando
autos graus de canalhice oportunista.
Sabemos que alguns poucos bolcheviques eram simpatizantes da idéia
anárquica, situação um tanto quanto preocupante ao partido comunista.
Trotsky já havia declarado que os Nabats só poderiam ocorrer se fossem
submetidos às ordens do partido, quando os anarquistas desobedeceram e
ainda convidaram alguns bolcheviques de base para participar dos
encontros. Os camponeses de Gulai-Polé nunca precisaram de uma "cúpula
campesina" orientando suas ações em nome do comunismo libertário e
pretendiam continuar assim. Logo foram declarados contra-
revolucionários.
Contra-revolucionários ou contra as imposições dos intelectuais
vermelhos? A mentira, a traição e o assassinato foram a saída
encontrada por Trotsky para dissolver e dizimar a população libertária
da Ucrânia e de toda a Rússia: após uma trégua entre os exércitos
negro e vermelho e do vitorioso combate sobre os brancos, um encontro
de confraternização havia sido marcado, no qual compareceriam grande
parte de anarquistas. Quando menos se esperava, todos foram fuzilados.
Nestor Makhnó e suas tropas ainda resistiram alguns meses e ainda
obtiveram pequenas vitórias sobre os traidores bolchevistas, mas a
derrota foi inevitável.
Havia uma tipografia e livraria chamada Golos-Truda que era um
dos principais órgãos propagadores das obras e dos jornais
anarquistas. Os bolcheviques destruíram-na três vezes, embora a
propaganda de liberdade de imprensa feita pelo "Estado Operário" fosse
intensa. Os anarquistas reconstruíram a Golos-Truda duas vezes, antes
de serem presos uns e assassinados outros.
Nas fotos e nos relatos do funeral de Piotr Kropotkin podemos
observar e analisar, em partes, a situação do movimento anarquista
russo. No dia de seu enterro, centenas de trabalhadores libertários
que haviam sido presos pelos bolcheviques ganharam (que ironia
ridícula!) o direito de organizar e participar do funeral. Tão logo
finalizado fosse o ritual, morreriam fuzilados mais da metade.
E há quem diga que Stálin foi o único culpado por toda a
barbárie... Há quem diga também que os únicos anarquistas russos
estavam em Kronstadt.

. . .

Para os ex-anarquistas que formaram o P.C.B. aqui no Brasil em
1922, o caminho mais fácil para a expansão do "comunismo" foi a
detonação não só teórica mas também física do pensamento e dos
militantes do socialismo libertário. Estratégia não muito diferente
da que havia sido tomada por seus camaradas russos. Como o governo já
havia instalado um campo de concentração no Oiapoque onde centenas de
anárquicos eram presos e assassinados, não foi muito difícil para os
marxistas desorganizarem o pouco que restava.
Após 1917, o mundo curvou-se perante a Revolução Russa. Muitos
aderiram ao bolchevismo acreditando que aquele sim seria o caminho
para as transformações sociais. Pobres iludidos que até hoje persistem
nessa idéia... chegam até a morrer pela instituição de novas
hierarquias. Mesmo com os resultados obtidos e apresentados, as turmas
ainda entram em apaixonado delírio revolucionário. Maldita ditadura
chinesa, que deixa inocentes crianças morrerem de fome, abandonadas em
recintos putrefatos. Maldita ditadura soviética, que até 1970 mandava
aos hospícios os artistas que sonhavam com um mundo melhor, que
torturou, assassinou e deixou morrer de fome mais seres humanos que o
próprio nazismo! Malditas sejam todas as ditaduras e todos os
ditadores do planeta! Comboio de oportunistas miseráveis! A
Providência não deixará que os tiranos fiquem impunes.
Bem, já estou esfriando os nervos. Neste momento, uma coisa ainda
me chama a atenção: por qual motivo nossa esquerda não comenta os
fatos ocorridos de 1936 a 1939, na Espanha? Por acaso os marxistas não
participaram daquela revolução?
Para os que afirmam que no anarquismo não há organização, a
história nos mostra que já em 1934 a C.N.T. possuía 1.577.000 filiados
e a U.G.T. 1.444.000. Cada um desses números ultrapassou
grandiosamente o P.S.O.E. e o P.C.E., que juntos não possuíam mais que
213.000 filiados.
Na Revolução Espanhola as terras e os meios de produção, assim
que resgatados, já eram coletivizados. As federações espalhavam-se aos
montes, a autogestão passou a ser posta em prática e a produção, ao
invés de decair como afirmavam os teóricos elitistas, cresceu. O povo,
os estudantes e os trabalhadores, homens e mulheres, trataram de suas
próprias vidas e de seus próprios negócios, independente de qualquer
ditadura proletária. Até que Stálin e sua sede pelo poder, em nome de
uma pretensa ajuda à revolução, acabou por desestruturar
definitivamente o povo espanhol. Afim de dirigir a luta através de um
partido único, investiu contra as milícias. Hitler e a reação
franquista também não tardaram em atacar a experiência socialista, e a
Revolução acabou indo por água abaixo.
. . .

Pronto. Por enquanto chega. Já esfriei a cabeça, agora vou
dormir. Só uma lembrancinha àqueles que acreditam que anarquismo é
coisa do passado: lembrem-se que a C.N.T. espanhola e que o C.C.S.
brasileiro, assim como inúmeras organizações libertárias, ainda
existem e resistem em todo o mundo. Lembrem-se de Seatle e de Praga,
observem os "1º de Maio", os grupos ecológicos, a Ação Global dos
Povos, escutem o Raul Seixas que vocês tanto curtem, etc.

Salve a Revolução Social!!!

16/04/2001. Inspirado no mini-curso "Anarquismo e historiografia:
aspectos da construção de uma memória anarquista", ministrado pelo
anárquico historiador Alysson Bruno, nos dias 12 e 13 de Abril de
2001.

"VAI TER COM A FORMIGA, Ó PREGUIÇOSO; OLHA PARA OS SEUS CAMINHOS, E SÊ
SÁBIO! ELA NÃO TEM SUPERIORES, NEM OFICIAL, NEM DOMINADOR, CONTUDO NO
VERÃO PREPARA SEU PÃO, E NA SEGA AJUNTA SEU MANTIMENTO".

Provérbios de Salomão, capítulo 6, versículos do 6 ao 8.

JÁ SE FOI

Tu que sempre estás escondida
No coração dos irmãos da escuridão e da saudade
Olha para nós como queridos
Pois somos filhos da tortura e da maldade

Tu que vives entre as máscaras do medo
Que nem sois água, nem fogo, terra ou ar
Vem quando chamamos hoje e agora
Vem sem medo pois chega a hora
já se esvai nosso luar

Carrega a dor que nos trouxeram
Destrói a fome, a peste e os governos
E te teremos para sempre em nossas mentes
Como a mais linda de todas as noites
Aliás, é isso que tu nunca deixas de ser

Vem que a carruagem te espera
Vem que a tocha ainda arde.
Antes que a lua se apague e que o sol deixe de dar sua luz

15/04/2001

TAINÁ

Como a lua é a santa luz da noite
A mãe celeste dos céus em escuridão,
Pela manhã me ilumina e me resgata
O raio de um sol, transformação.

Tranqüila e linda árvore
Cujas flores ainda tocam meu jardim
Se outrora me permitido fosse
Te levaria ao som do amor sem fim

Como a lua, sagrada mãe do oculto
E como a brisa da manhã em livre arbítrio
O primeiro raio do sol
Rompeu as trevas atuais em que habito.

16/04/2001


DE VOLTA À REALIDADE

A coroa de flores nos teus cabelos
Me trouxe deliciosas lembranças...

Do tempo em que éramos um
Do dia em que nos conhecemos

Na noite em que fomos a mais feliz criação do universo, as Igrejas
calaram e curvaram-se perante nosso calor
Os céus e a terra sorriram
As escolas ensinaram uma nova forma de viver
Nenhum ser vivo morreu naquele instante

Teu doce cheiro me fez bem...
Assim como o meu toque te fez sonhar
Tua voz ainda ecoa em minha alma
Nossos espíritos ainda pairam sobre o mar

Infelizes são aqueles que não acreditam no amor
Que não criam nada, só reproduzem suas desgraças
Que não dão chances a quem gosta de sorrir
E ridicularizam tudo o que para eles for desconhecido

A vela acesa a tua esquerda
Me resgatou de volta à realidade.

16/04/2001
LIBERTÁRIOS

Uma parte mínima do povo que luta pelo amor, liberdade e
igualdade de todo o povo. Esses são os libertários. Lutam pelo povo, e
não por um novo governante ou um líder revolucionário. Os anarquistas
não querem chegar ao poder. Aliás, a descentralização constante até a
total dissolução do poder é o objetivo de todo anarquista. Querem que
todas ou a maioria das pessoas estejam interessadas e que existam
meios diretos de participação e construção na organização econômica,
cultural e política da sociedade.
A existência dos governos dá provas de desigualdade social. É bem
mais que lógico: enquanto existirem formas de governo, existirão
classes sociais e conseqüentemente desigualdade. Se há classes,
logicamente há ricos e pobres, possuidores e despossuídos,
exploradores e explorados. Muitos críticos do anarquismo afirmam que
sem governo ou centralização, não há organização. Esses indivíduos,
além de não compreenderem ou de nunca terem ouvido falar de
autogestão, possuem uma compreensão bem limitada do que se chama
liberdade. A maioria das pessoas, por motivos que não comentarei
agora, é descrente de si e para si mesma. Não percebem que através da
vontade e da união, seriam capazes de criar e organizar bem mais que
qualquer governo existente até então. Muitas dessas pessoas que são
contra a anarquia, localizam-se em uma alta posição social
(financeiramente falando). E é por isso que são contra: se não houver
capital, privilégio e propriedade privada das terras e dos meios de
produção, como os parasitas irão viver? A realização da anarquia
traria para cada um de nós, toda a responsabilidade pela organização e
administração da saúde, da educação, da segurança, das artes, etc. Os
organismos estatais construídos de cima para baixo e distantes do
contato popular seriam substituídos pelas decisões e ações das comunas
e federações que seriam, por características próprias de qualquer
organização libertária, controladas diretamente pelo povo. Liberdade
exige muita (e bota muita nisso!) responsabilidade. Para ser
responsável é preciso querer, e para querer é preciso acreditar,
fazendo também com que outros acreditem e queiram. Eis aqui o senão
único, mas principal motivo da propaganda pela ação no movimento
libertário: ela da provas de que "a utopia é possível". Salve Chiapas.
Sou anarquista, a princípio, por nem querer nem ser escravo nem
querer ser senhor. Conseqüentemente não sou senhor, mas ainda continuo
sendo escravo. Para deixar de ser escravo, preciso me libertar
completamente dos senhores que me escravizam psicológica, física e
espiritualmente.

Zine "A Fonte dos Loucos", Março de 2001.

ANARQUISMO CRISTÃO

Antes de me identificar como anarquista, era e ainda sou cristão.
O materialismo histórico não me provou muita coisa, analisou somente o
que posso tocar e parou por aí. Também não submeto minha fé às
especulações da ciência. Acredito no oceano, e para isso não preciso
dividi-lo em garrafas e analisa-lo enfadonhamente. Isso seria tão
ridículo quanto tentar medir, datar e dar número ao infinito, quanto
tentar compreender o todo através de caminhos parciais. A Inteligência
Universal é insondável: aqueles que sentem prazer em perder tempo que
o tentem fazer.
O Universo é tão complexo quanto nossas mentes. Como havia dito
um dos pais de nossa Arte, o sábio Trimegistus: "O que está em cima é
como o que está em baixo", assim somos nós, imagem e semelhança de
Deus. Da mesma forma que não compreendemos por completo nossas mentes,
não compreenderemos, senão supostamente, o universo, a razão cósmica
de ser do Ser.
Infelizmente, no próprio movimento anarquista, questões como
preconceito e sectarismo ainda sobrevivem. Não são poucas as críticas
destrutivas que recebo. Não que eu esteja fechado às críticas,
totalmente o contrário. A questão é que, ao me acusarem de dogmático
por ser teísta, não percebem que levantam e imputam um outro dogma,
uma outra verdade absoluta chamada ateísmo que, idêntico a crença, só
existe, cientificamente falando, em tese. Portanto, camaradas ateus,
não percamos tempo em tiragens cansativas que não levam a lugar
nenhum. É mais importante, para todos nós, enveredarmos na luta por um
mundo em que caibam vários mundos.
Destruam toda a fé que esta geração deposita em Deus, aniquilem
todo e qualquer sentimento e pensamento considerado "divino", e a
próxima geração terá um novo trabalho: o de construir tudo novamente.

16/04/2001

INDIVÍDUOS ANÁRQUICOS

O anarquista, como indivíduo, é aquele que busca resolver seus
próprios problemas e organizar sua própria vida, que nem quer ser
governado nem quer governar, já que acredita no potencial
organizacional e criativo da espécie humana. É, por excelência,
inimigo número um das formas centralizadas e hierárquicas de
organização social, já que busca a descentralização e a participação
direta nos negócios públicos.
Somos internacionalistas, pois para nós não há pátria maior e
infinitamente mais bela que o Universo. É por nosso mundo que devemos
lutar, e não por um delimitado espaço de terras e uma bandeira, que
por sinal, têm sido causa de muitas e muitas guerras entre os povos do
planeta.
Para muitos anárquicos, Deus é uma mentira. para outros, não há
Deus senão o homem. Para mim, amar a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo é a máxima expressão de liberdade, igualdade e
fraternidade.
Os anarquistas se organizam de acordo com suas afinidades.
Constroem federações para descentralizar a resolução de seus problemas
e coletivizar o conhecimento e as necessidades que possuem. As formas
de organização libertárias são completamente diferentes das formas de
organização partidárias. Em nosso meio não há hierarquias, nem
"centralismo democrático", nem presidentes, nem chefinhos. Somos todos
iguais e, embora uns tenham mais facilidade para falar que outros e
que outros tenham mais conhecimento que uns, buscamos compartilhar
nossas faculdades naturais e adquiridas para que todos sejam capazes
de tudo. Desde o princípio, descentralizamos e estilhaçamos o poder.
Somos contra as eleições. Embora tenhamos votado algumas poucas
vezes no decorrer da história, não acreditamos nessa saída que nos é
apresentada pela burguesia. Esse tipo de democracia elitista não passa
de uma máscara. A burocracia, os governos, as polícias e o capitalismo
continuam vigentes após a farsa do voto, sem falar que continuamos sem
manter contato direto com as coisas públicas, já que delegamos nossa
liberdade e capacidade de ação e organização a um poder maior. Como já
dizia uma banda punk, "o voto é uma arma que não temos contra quem
usar".
Ora, para nós, os fins não justificam os meios, mas os meios
condicionam os fins. Se o meio é autoritário, o fim não será muito
diferente. Se derrubarmos um governo e levantarmos um outro,
deixaremos de ser governados e passaremos a nos autogovernar? De forma
equivalente, como podemos buscar a descentralização através de uma
centralização maior? Isso é extremamente contraditório e ridículo.
Acabamos caindo em um círculo vicioso. Para derrotar de uma vez por
todas os autoritarismos, as tiranias, as burocracias e a escravidão,
precisamos, como já dizia Ricardo Mella, ter "a liberdade como base, a
igualdade como meio, a fraternidade como fim".
16/04/2001

SEGUNDA PARTE:
VAMOS TOMAR O PODER...
...VAMOS TOMAR NO CU.


@ ESTUDANTE LIVRE

Graças ao auto grau de idiotice que consumimos diariamente,
graças a todo o sentimento nacionalista/patriota que nos é jogado pela
rede globo e os demais meios de comunicação, graças à desunião que
enfrentamos devido a nossa "esquerda revolucionária" que transforma
tudo em pizza e graças a nosso governo autoritário/ditador, é que
estamos cada vez mais fudidos. O Movimento Estudantil atualmente
encontra-se nas mãos de partidários de várias facções. Quase todos os
grêmios estudantis abandonaram seus objetivos para fazer propaganda
política e poucos são os(as) estudantes que ainda lutam por seus
direitos, a grande maioria prefere esperar sentada que alguém resolva
seus problemas. O caso mais recente foi o roubo cometido pela UMES
(organização responsável pelas carteiras de estudante). No ano
passado, a UMES pediu um preço absurdo pelas carteiras, e até hoje
várias não foram entregue (sem falar que boa parte das que vieram
tinham seus dados errados). Esse tipo de coisa irá continuar
acontecendo sempre, a menos que nós estudantes nos unamos, nos
organizemos e contestemos essas falcatruas. As leis não só das escolas
mas de todo esse Bra$il são escolhidas e executadas pelo governo sem
nossa participação ou opinião, logo nós que movemos o mundo com nossa
força de trabalho e nosso conhecimento, que se não fossem os impostos
que pagamos não existiria nem escola, nem prefeitura, nem rua, nem
nada, abaixamos nossas cabeças e atamos nossas mãos perante tudo o que
acontece. Estamos calados de propósito ou simplesmente com preguiça?
Pois da mesma maneira que na época da ditadura o carnaval e o futebol
alienavam o povo para que não vissem a realidade, hoje o sexismo do
Tchan e companhia nos vem alienando. Tudo isso e muito mais para que
não enxerguemos a real situação. Abra os olhos, dê um basta à
alienação, precisamos acabar de uma vez com toda essa desgraça. Até
quando seremos explorados? Já vão fazer 500 anos.
Estudante, não deixe que escolham por você, não deixe suas
atividades nas mãos de terceiros, não entregue seu destino aos
partidos. Lute! Conscientize quem necessita, questione as autoridades
porque elas são parasitas que se alimentam do nosso sangue. Acorde e
veja que nossa realidade não é um mar de flores e sim um mar de merda.
Informativo "Estudante Livre". Nº1, meados de 1997.

NÃO!

Não beba
Não fume
Não cheire
Não corra
Não transe
Não durma...

O partido diz: Não!
O governo diz: Não!
Sua mãe diz: Não!
O pastor diz amém
E o padre também
Diz amém à sua miséria
Por que você não morre logo?

Não beije
Não toque
Não sinta
Não chupe
Não goze
Não tome meu esperma
Que tal um copo de suco?

Meados de 2000


É MAIS DIGNO SER UM MENDIGO QUE SER UM MILITAR!

O Estado pariu o mendigo
O mendigo vive a esmolar
O Estado pariu o militar
Para a burguesia ele guardar
O militar é explorado
E o mendigo mais ainda
O mendigo pede à elite
Mas o militar o extermina
O mendigo apanha
O militar é quem bate
E o Estado
Cada vez mais os abate.
Um pede outro toma
Um chora outro espanca
Um usa outro trafica
Ambas as mortes são esperadas
Pela minoria rica.
Chega de mentiras, autoridade, repressão, violência gratuita e sonhos.
"Amar a bandeira de um país é morrer por um pano pintado!"
Zine "Subversão". Nº6, meados de 1998.

Mais suave que a brisa noturna
Mais brilhante que estrela cadente
Mais perfumado que um milhão de tulipas
É você.

Os pássaros não cantam como você fala
A lua não brilha mais que seus olhos
O fogo nem se compara comigo por causa
De você.

Mergulho na escuridão
E no mais violento sofrimento
Tenho esperanças de um dia
Você vir me livrar desse tormento.

Zine "Amor, Liberdade e Outros Coisas sem Sentido", mrados de 1997.

VOTE NULO, NÃO SUSTENTE PARASITA!

Cada voto que usamos para mudar a situação
Perpetua-se o sistema e é pior a exploração
Enquanto nos dividimos felizes a votar
Somente vai enfraquecendo o movimento popular
Na direita ou na esquerda o poder ainda é poder
Valoriza uma classe e as outras vão se fuder
Todo líder é autoritário todo sistema é patrão
Rouba nossa líberdade destrói nossa união
A esquerda e a direita lutam pau-a-pau para ver quem vai nos
explorar.. .
Desculpe, quis dizer governar
De um lado a pátria e do outro o patrão
Morte ao patriotismo viva a autogestão
E se cada dia que passa sua revolta é mais tardia
Tome consciência e junte-se a Anarquia!
Vote nulo! Não Sustente Parasita! Não venda sua Revolta! Vá à luta!

Panfleto. Meados de 1997.


OUTRAS PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS DA CANÁRIA NEGRA:

? Comunismo Anárquico - vários escritos sobre a filosofia anarquista
(vários autores, 1998). !!!ESGOTADO!!!
? Revolução Social - análises sobre Revolução (Rômulo Angélico, 1998).
R$ 2,00. Por correio: R$ 3,00.
? ROMERO - o dia-a-dia de um jovem anarquista e suas paranóias (Rômulo
Angélico, 1998). R$ 5,00. Por correio: R$ 7,00.

PRÓXIMOS LANÇAMENTOS:

? Kaos Magick e Zos Kia Cultus - teorias e práticas de ocultismo
caótico (coletânea, vários autores).
? A grande Arte - Magia (Rômulo Angélico).

CONTATOS:

@s interessad@s escrevam para Rômulo Angélico, Rua dos Paiatis Nº
1835, cep.: 59037-150, Alecrim, Natal/RN, ou para
histor...@bol.com.br.
Se alguém estiver afim de trocar uma idéia, meu fone é (084)
653-3758. Estou aberto a trocas de materiais, de preferência,
materiais alternativos sobre anarquia e ocultismo.


O QUE ELES FAZEM COM OS IMPOSTOS QUE PAGAMOS?

Pagamos impostos de tudo. Lutamos durante anos, trabalhamos
arduamente para comprar um pedaço de terra (terra que deveria ser de
todos), depois lutamos mais ainda para construir uma casa, e ainda
temos que pagar um tipo de imposto 'a prefeitura senão perdemos tudo.
Todas as coisas que pagamos já estão com impostos incluídos, e
para onde vai esse dinheiro? O governo engana a população asfaltando
algumas ruas ou distribuindo leite. Será que tudo o que pagamos se
resume a isso? Já somos explorados diariamente trabalhando demais e
recebendo uma miséria, e ainda temos que pegar essa miséria e dar uma
grande parte ao governo. Trabalhamos apenas para encher os cofres do
sistema. Os políticos já estão acostumados com isso e a única coisa
que fazem é planejar outras mentiras para continuar explorando. Porque
continuamos a votar em pessoas que só nos roubam? O que adianta dizer
que o problema está em um atual governante de uma cidade, se depois de
quatro anos entra outro e rouba do mesmo jeito ou pior? Faltam
medicamentos nos hospitais. Falta até água, as escolas estão sem
professores, a polícia desconta o baixo salário na população, está
ficando cada vez mais lastimável a situação.
Não adianta culpar governo A ou B, o defeito é a atual forma de
governo, que é uma ditadura encoberta, pois quem está no poder só
pensa em sua própria vida, vivendo muito bem as nossas custas. Será
que vamos trabalhar a vida inteira para alimentar os parasitas?
Reflita.

Um de meus primeiros textos
Zine "Lutando pela Liberdade". Nº2, início de 1997.


Edições Canária Negra
Sem direitos, sem reservas e sem copryght
Natal, Abril de 2001

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